quando o nosso ar é arte..... ...inspiramos e entramos em mundos paralelos

segunda-feira, 25 de junho de 2007

última ceia....

Aceitámos o desafio do capitão haddock, e pusemos toda a nossa arte, espírito e empenho na concretização do nosso projecto culinário.

Pesquisámos, andámos perdidas na cidade e no campo a inspirarmos odores, cores e sabores, e chegamos a uma ementa verdadeiramente artística, saborosa e original.

Assim, e sem mais demoras, passamos a apresentar a nossa maravilhosa, e bonita última ceia.

*

Entrada

*Bruscheta com mozzarella de búfala,

tomate cerise,

manjericão

e azeite de trufas,

e pão de mistura alentejano.


Prato de peixe

*Lagosta gratinada com bananas fritas


Prato de carne

* Picanha grelhada

em cama de legumes cozidos ao vapor

com molho de morango


Doces

*Farófias de groselha em paus de canela

*Doce guloso de oreos de chocolate negro,

natas

e leite condensado


Bebidas

* Granizado de champagne

* Sangria branca e frutos silvestres

* Mojitos com menta marroquina

*

E foi esta a ementa elaborada para tão ilustre concurso, cujas linhas mestra foram a slow food e fusion com muita arte.

Depois de tudo planeado ao pormenor, ingredientes comprados País a fora, e nas melhores lojas gourmet, fomos para a cozinha....



Ligámos a torradeira para torrar as fatias de pão alentejano, preparando assim a caminha da bruscheta antes de ir ao forno. E a torradeira explodiu deitando faíscas por todos os cantos da cozinha. Um perigo, íamos morrendo electrocutadas.

Sem a ferramenta principal para a elaboração da nossa entrada, e sendo domingo, estando todas as lojas fechadas para comprar uma torradeira nova, avançámos para o prato de peixe deixando a entrada para depois.

Fomos ao cesto onde se encontravam as deliciosas bananas importadas da América do Sul, as melhores para fritar, qual não foi o nosso espanto quando constatamos que as mesmas tinham ganho vida.




Fomos atacadas por todos os lados. A casa encheu-se num ápice de bananas voadoras, qual filme de Hitchcock. Não fossem as magnificas vassouras da loja do chinês das esquina, e a esta hora não estávamos cá para contar a história.

Achamos por bem esquecer as bananas fritas e ir preparar a maravilhosa lagosta vinda expressamente de Madagáscar.


Abrimos o frigorífico e de imediato a maldita lagosta estendeu os seus braços e agarrou-nos pelo pescoço, foi um sufoco. Não fosse o maravilhoso gato da casa e tínhamos morrido ali sufocadas. O valente felino mandou-se ao malévolo crustáceo de unhas e dentes e deu cabo dele.
No entanto não sobrou nem um pedacinho da branca carne da lagosta, o gato come-a toda e lambeu os bigodes com tamanho repasto.
As coisas não estavam a correr bem, e algo de muito estranho se estava a passar naquela casa, mas como se costuma dizer, que não há duas sem três, e á terceira é de vez, pensamos que tudo o que poderia acontecer de errado já teria acontecido.
O melhor seria prosseguir com os pratos que nos faltavam. Pusemos então a picanha já temperada a grelhar, os vegetais a cozer e fomos buscar os delicados morangos para fazer o divinal molho que ia acompanhar a carne.


Até hoje não sabemos o que poderá ter acontecido, quando fomos tirar os morangos das caixinhas, o celofane que as envolviam começou a crescer a crescer a crescer e a enrolar-se á volta dos nossos corpos. Na aflição de rasgarmos o plástico que nos apertava o corpo e nos sufocava, deixámos cair os morangos no chão e no fim da guerra contra o plástico, os morangos não eram senão uma grande papa no chão.
A cena era lastimável e a tristeza era muita, tínhamos agora o projecto quase todo arruinado, e sem nada para apresentar ao senhor capitão.
Olhamos para o nosso artístico menu e constatamos que só sobravam as sobremesas. Pensámos que se pelo menos conseguíssemos fazer a parte doce do menu não chegaríamos á ceia sem nada nas mãos, que seria melhor que nada.
E lá resolvemos fazer os doces.
As farófias de framboesa correram lindamente, depois de prontas estavam lindas e de sabor divinal.
Colocámos-as em grandes tabuleiro, e a sua visão era de facto uma maravilha, ficámos a apreciar a nossa primeira obra de arte culinária bem sucedida.
Mas quanto mais olhávamos, mais as farófias cresciam. Estranho acontecimento. Fomos verificar os ingredientes utilizados para confirmar se, por engano não teríamos usado uma farinha com fermento extra especial, mas a farinha não fazia parte da receita.


Quando voltámos a olhar para as ditas, elas tinham ganho uma proporção assustadora e saiam dos tabuleiros onde as tínhamos colocado. Rapidamente lançaram-se em nossa perseguição.
Corremos para fora de casa a toda a velocidade. Foram tempos infinitos na correria da fuga, e quando demos por nós estávamos em pleno campo e perto do mar. Pensamos que a única solução de fuga seria o mar. E assim o fizemos, entramos na água rapidamente, e de facto as farófias em contacto com a água, dissolveram-se.
Em face do perigo corrido entrámos completamente em choque, não fora o mar a salvar-nos e teríamos morrido, teria sido uma morte doce, mas prematura, ainda tínhamos muitos anos de arte pela frente.
Fomos para casa combalidas e desanimadas, pingando da cabeça aos pés.
Tínhamos pacotes e pacotes de oreos na na cozinha, para o doce final, mas com a correria toda e a energia despendida, deu-nos uma fome brutal e atacámos os oreos sem apelo nem agravo.
E fomos comendo e comendo.


Comemos tanto, que depois não nos conseguimos mexer mais, estávamos atoladas de doces, e de repente conseguimos entender a vontade compulsiva do bulimicos de provocar o vómito.



Cruzámos os braços, estávamos literalmente derreadas, sem forças para nada, atacadas por todos os ingredientes da última ceia, com a cozinha virada do avesso, com vestígios de comida por todos os cantos, sucumbimos. Nada mais havia a fazer.

Retirámos-nos para a piscina no fundo do jardim, com as almas angustiadas e os corpos destruídos.
Pedimos as nossas mais humildes desculpas ao senhor capitão do insucesso da maratona da ceia artística, mas temos sérias razões que nos foi rogada uma praga potente, nunca tínhamos presenciado tais acontecimentos, nem em filmes de terror nem em novelas mexicanas.
A vontade era muita, o empenho maior e a intenção a melhor, mas fomos derrotadas, e humildemente aceitamos a nossa derrota.
Oferecemos a ementa elaborada a quem a quiser executar, desejando a melhor das sorte.
E já agora, se alguém souber de algum padre poderoso que nos possa vir benzer a casa e expulsar estas feitiçarias contra nós enviadas, agradecíamos.
*
ARTE by Daniela Edburg

12 comentários:

1entre1000's disse...

IMPECÁVEL!!!!!!!!
peca por tardia esta ceia mas sem duvida a mais original!

Haddock disse...

maravilhoso!
passei aqui às pressas, mas volto!
adorei!

Haddock disse...

agora com mais calma...

como é que é?? não há ceia?? só a ementa da dita?? isso é que era bom!! até porque já estava a salivar quando cheguei aos "desastre de sofia"!!
traz os oreos, as bananas, o gato, que tudo mexidinho dá uma lauta refeição!!


eu estou embasbacado com as fotografias...

galatea disse...

muy lindas las fotografías, "mundos paralelos" me encanta eso.
saludos.

Mig disse...

Grande ceia!

Pena as complicações...

Parabéns, a melhor até agora!

Boop disse...

A melhor descrição1 sem dúvida!

Curiosa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Maggie, já fui ali aos Jerónimos solicitar os serviços do pároco! Esta nossa casinha tem de ficar limpa de tanto demónio!
Achas que não podem ser coisas do Berardo com medo da concorrência???

Tu és um must e a nossa casa não merece tanta maldição!!!

Posso dar-te um 5++???
;))

NoKas disse...

Que loucura!

Haddock disse...

gosto de números redondos, o que se pode fazer...

audrey disse...

Adorei ... pura e simplesmente !

isabel disse...

muito, muito bom o teu blog. parabéns! E obrigada pela partilha.

Levo as bananas voadoras comigo...

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